quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

mãos de pé...

pés no chão... pés na terra...


caminho com os pés 

que em sonhos ganham asas


descalço na praia 

e na terra e na água

caminho.


calçado na estrada 

aos olhos de quem me marca


calçado ou descalço?

vestido ou despido?

na terra ou no sonho?


mascara ou essência?


pés que andam,

ou se perdem na inércia.


o mundo tem pés para andar,

e nós?


mãos para parar...

ou empurrar.


olha...

vamos andar,

mas andar com o mundo.


que força é essa?


dá um passo sozinho

abre os olhos um segundo.


passo a passo

e de mãos dadas

com a voz que nos enleva.


Vem,

vem depressa...

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Indeterminada sensação boa...

Está sol,
sinto a primavera ao longe,
hoje há um sorriso que me sobrevoa,
ao longe...

Ontem falei contigo
sem ouvir a tua voz,
fomos um rio sem foz,
fonte do rumo que persigo.

Ontem emergimos
à tona do mundo e do sonho.

Hoje a vida continua
sozinha pela rua...

Segue adiante, nua,
aberta e distante,
com os meus passos na rua
e o olhar profundo,
aberto, distante
e compenetrado com o mundo.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Ansiedade

Invejo os amantes

o pensamento contido

no afago dos momentos...


Faz-me falta aquele amor...


O coração envolvido

na manta de uma vida com sentido.


Faz-me falta urgente

mas sinto-me na eterna busca

duma realidade inexistente.

Procuro-te...

Procuro-te,
desmarcado...

Na solidão das multidões
procuro-te por todo o lado.

Nos comboios à pinha de gente
não busco um lugar aos encontrões,
não me quero sentar...

Procuro um abraço envolvente,
quiçá um sorriso
que é em mim distante,
teu divino semblante,
o paraíso.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

De mais pensar...

Faço da poesia meu subterfúgio
escrevo passo a passo a vida que passa
Auguro bom presságio à escassa hora
e de olhos fechados na minha carapaça
preparo o alvor de evasão deste refúgio
ansiando sempre sempre seja agora

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Uma redondilha maior...

Acordei de um sono interno,
Renasci das cinzas de mim.
Movo-me num vasto jardim
De cinzentas flores de Inverno.

Dentro sinto um fogo eterno
De aveludado carmesim,
E neste corpo a morte enfim,
A arder de dor no inferno.

Já não me apraz a própria paz,
Nauseia-me a perturbação
E a emoção tanto me faz.

Já não sucumbo à tentação,
do falso rugir de leão
que é pele de uma essência fugaz.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Raiva

Eu já não me tenho de pé.
Estou farto de todos vós,
cansado das vossas irrealidades,
quero ver verdades e niguém as é.

Estou farto de levar com histórias fúteis,
sorrisos mascarados
de amigos inúteis.

Fartei-me de rostos iguais e quotidianos,
vocês estão já gastos e nem foram usados.

Vocês não são humanos,
são bonecos de trapos,
marionetas conduzidas por tretas.

Vocês podem engolir sapos
porque a vossa mente não muda.
Mantêm certinho esse trilho
que vos foi ensinado,
como cordeiros fofinhos.

Vocês são bonzinhos,
mas eu procuro o sarilho.
Não quero ser homologado.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Cegueira

Tu queres cozer-me os lábios,
corda crua na enfiadura da agulha.
Queres-me calado, curvado no teu chão.

Podes vir,
com a tua sórdida intenção.
Segue ardendo em mim a centelha
e a flecha do meu olhar mantém o rumo.

Queres-me longe da tua lavra
porque te incomoda o meu silencio
e a nudez da minha palavra.

Só porque eu sinto...
Porque vejo a morte
detrás do sorriso podrido
e do amargo desalento.

Queres ver-me padecer
da tua alegria postiça.
Queres amputar-me o pensamento
para que caia na tua preguiça.

Tens medo da solidão
e do negrume que te devora.
Nunca abriste a porta
da emoção.

Fazes-te falta
e distrais a dor de ti
Despejando-te fora...
Atiras-te a mim.

Vem, realiza o teu cego intento,
mas não esperes luta ou rejeição.

Abro-te as portas
para que bebas do meu sangue.

Sacia a tua sede
com a visão que me dá alento.
Compreende a fonte da minha força,
empreende-te em discernimento.

Luz

Branca ilusão
de um cálice perfumado,
envolto em divindade,
culto pagão de amor.

A vida sem intensão
que me molda em esplendor.

É tudo isto
um segredo dourado
de quem reconhece a luz
por detrás da cor.

Dor que atormenta o peito,
alvorada de um ângulo,
ponto de avistar a foz
e o jazigo de aguas passadas.

Lugar solitário,
transcendido na virginal cor de nós.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Poema vazio

Desejo escrever tanto mais que o que faço...
mas a minha mente por vezes parece parar.
Inexistente linha de raciocínio circular,
mente vaga e olhar difuso no externo espaço.

A sensação é de um irrisório momento,
só porque realmente nada penso,
mas despejo palavras ao vento
escrevendo este nevoeiro denso.

Estranha vontade de ser quem sou,
nervoso na linguagem estagnada,
estorvo de vida que em mim calou...

Desejo a visão de uma palavra consagrada...
Mas nada de profundo existe no que digo
Mera estética poética num verso mendigo.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Hoje...

A vida é, no ar que me rodeia, ferente .

Envolvo-me num mar de sedas e serapilheiras,
escuto o coração bombeando-me as veias,
e participo cada vez mais activamente
naquilo que eu sou.

Hoje preocupo-me com o que sou e não sou,
com o que aconteço e deixo por ser,
penso e repenso, quero entender,
qual a melhor maneira de chegar onde vou.

Nada se justifica se não for quem sou,
então faço por ser e acontecer.
Cansei-me da cadeira que me sentou,
e de toda uma vida sem me mexer.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Sincronicidades

A viagem de uma noite
abre o olhar de um corpo
invisível aos outros...

Sou feito de vários universos...
ângulos diferentes,
pontos de vista,
corpos dispersos.

Apenas um está acordado,
momento a momento,
mantendo a consciência
no inacabado mundo do discernimento.

A viagem de um dia
vive enquanto eu durmo,
acontece tudo em simultâneo.

Arvore da vida,
pensamento contemporâneo,
maçãs azuis,
olhar frio, aberto, em ferida.

O que podia,
o que serei, o que faço, o que vivi.
O inverso da história.

Outro universo decorre na memória,
agora, no mundo que eu não escolhi.

E a vida está tão presente em mim,
como ausente no outro lado do vazio.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Prefiro a vida... (comentário a Pi...)

Prefiro a vida...
gosto da nudez de uma lagrima disfarçada,
e de um sorriso que cai.
Gosto da tristeza que me assola a alma,
principalmente quando o raiar iluminado da manhã volta a brilhar...
onde está a pureza num enredo de projecções e desejos,
onde estão as paixões, os beijos?
Onde as ilusões e respectivas desilusões?
Prefiro a vida, que nos deixa sem forças nem saída,
que nos prende e nos liberta.
Prefiro o sabor do sangue numa ferida aberta.
Prefiro a vida doce, austera e verdadeira.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Paraíso do desejo

O vento levanta a poeira
sobre um véu noctâmbulo do deserto.

Dança do ventre,
mulher de olhar esquivo e aberto.

És explosão de lava em mim.

Pele morena a tua, quase dourada
e de fulgor sensual,
extasia-me com ardentes desejos,
mãos que me adulam,
promessas de beijos.

Mais um olhar de esgueira
e verás meu corpo cair por terra...

O lume da tua dança
esmoreçe a fogueira
que à instantes parecia alumiar a noite.

Noite esta, debaixo da vigília do luar,
em que prevejo uma chuva de estrelas cadentes
que se aproximam para louvar a tua beleza.

Caem humildemente a teus pés,
pelo vasto encanto do teu perfume.

Vem mulher,
no meu leito encontrarás
a doçura do mel mais puro.
O afago mais quente e profundo.

Vem despida.

Retira esses véus de sedosa ilusão,
porque o meu olhar
não quer ver outra veste
além da tua pureza.

Sejamos cálice de sangue e certeza,
mágica poção de amor.

Brindemos então à vida,
compenetrados na criação.

Vem serena princesa,
quero beber a seiva dos teus lábios,
fonte da minha eterna sede e rendição.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Palavras...

A poesia veio sozinha,
chegou tranquila, sossegadinha,
brinquei com ela... voou em mim.

Cresceu, e eu com ela.
Vivemos sonhos, agonias,
Noites e dias sem fim.

Sossegadinha,
chegou tranquila,
sozinha veio poesia, a... mim.