terça-feira, 22 de julho de 2014

Vida de artista

Olho para a vida
que se afunila num sentido ininteligível

Não vejo futuro
não vejo escolhas
não vejo saídas
não tenho opções
só tenho a arte

E a arte alivia-me
mas faz-me sofrer
dá-me o mínimo para sobreviver
e limita-me o suficiente
como para não me ser possível
libertar das suas amarras

E o que seria eu sem ela?

Uma morte viva
uma vida sem alma
um corpo sem esperança
uma máquina sem sonhos...

Mas com ela sou mendigo
sou espera
um fazer que a nada leva
sou nada

Não sirvo para nada
nem para ninguém
e no entanto o que ainda faço
nem sequer é para mim

Faço o que faço
sei lá para quê
sei lá para quem

Para a humanidade - penso eu
Mas é uma ilusão
Para a posteridade - volto a pensar
Mas não acredito

E a dor de ser sem ser
espalha-se pelo meu corpo
pelo chão estendido
e o peso da inutilidade preenche-me as palavras

E a vida continua

Que bela merda!


Victor Rodrigues

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