quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Algo se passou entre mim e o mundo...

Perdi o fio à meada das palavras.

O meu coração já não me fala como antigamente,
calou-se e fechou-se.

Hoje o sopro que me sai dos lábios, sai pesado,
sem a leveza dos poemas sanguíneos.

O ar fresco que inspiro, é enublado
pelo fumo dos pensamentos.

Perdi o rumo no mundo dos poetas,
já não percorro esses campos livremente...

Escrevo com vontade a minha voz,
mas falo acerca de nada.
Falo do vazio, falo do frio invernal,
falo da penumbra da solidão.

E aqueles sentimentos refundidos,
aqueles que ainda contêm reflexos tonais...
já não os exprimo.

Algo se passou entre mim e o mundo,
já pouco falamos. Não sinto mais a confiança
para gritar aos quatro ventos a minha verdade.

Guardo no coração a essência
e partilho-a em silêncio,
com quem o escuta.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Carência

Sinto-me horrivelmente pequeno,
controlado como uma marioneta,
pelas emoções.

Os meus musculos mirram,
o meu corpo encolhe-se
para mergulhar no umbigo.

Sou carência
manifestada nas agonizantes pulsações
de um coração em perigo.

Sou a solidão
e a dôr da tua ausência.

Sou o amor que não conheço.

Sou as masturbações num cubo fechado.

O desconsolo.

O vazio frio e seco como champgne sem brinde.

O abraço de só dois braços.

Sou a raiva que aflora para substituir o calor humano.

Sou a esperançosa espera sem resposta.

Sou finalmente a paz das palavras
vociferadas pela amargura de um poeta insensível:

Odeio-me tanto quanto me amo.


...

domingo, 10 de maio de 2009

Depressão

Ao inspirar profundamente,
uma mão de ferro
esmaga-me a coluna vertebral
entre as omoplatas.

É a força da responsabilidade
sobre a respiração,
que me deixa o peito e os olhos turvos,
encobertos pelas nuvens de tempestade.

Não vejo o sol.
Não sinto o batimento cardíaco,
tão leve e silencioso
como os passos da morte.

E a angústia,
e o tremor do estômago
esbatem as cores da minha vida,
longínqua e vergada
pelo peso de oito horas...

sábado, 14 de março de 2009

O último adeus

Faleceu a minha veia poética.
Morreu pálida, exangue e mirrada.
Se tivesse sido uma chama,
Ter-se-ia extinguido, mas não,
Era apenas uma pequena veia poética
Que existia junto ao meu coração romântico.

Antes de a não voltar a ver,
Presenciei o aspecto do seu rosto:
Uma criança muito branca, feliz,
Dentro de um caixão ebúrneo, fulgente.
De olhos fechados, como um anjo
Eternamente distante.

Despedi-me dela
Com um beijo na testa.
E nos meus lábios, para sempre
Se há-de manter viva a memória sensitiva
Da sua pele fria,
Que me enregelou o sangue e as veias.


(Em memória do pequeno Pedro)