quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Percepções...

Se sinto alegria ao acordar
é por este ambiente que me envolve.

Respiro as cores que me preenchem a alma,
que se dissolve entre o cheiro fresco da manhã.

Tenho um laço com este espaço,
pequeno mundo, projecção do meu ser,
sinto o seu abraço.

Vejo a transformação que em mim decorre
quando os sons me fazem vibrar,
ao acordar...

Toco sentimentos profundos,
de lumínico esplendor.

Caminho descalço num tapete
que me transporta para os sonhos,
faz-me lembrar eternos prados,
verdes relvados, toques de amor.

Vejo num fumegante pau de incenso
uma fogueira acesa ao relento,
um céu estrelado, canções da memória...

Sinto em cada cor uma história,
em cada textura um momento.
Tudo o que vejo me leva ao que penso.

Por isso,
quero acordar num mundo revibrante,
pleno de verdade em cada sentimento.

Quero sentir a exaltação da vontade
irrompendo incessante
qual nascente da criação.

Sempre,
em cada instante e percepção.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O contrato

As palavras condensam-se no meu peito
quero amar mas desespero
misturo o que sinto
e tudo se revolve num furacão
de devaneio...

Quero sair de mim,
cansei-me.

Não posso rescindir
no contrato de aluguer
deste corpo pesado...

Entregaram-mo puro e lavado,
mas eu estourei-o no asfalto e
tenho vergonha de o devolver assim.

Procuro as águas salutares
para me purificar.

Quero amar e ser mais alto.

Terei de esperar pela morte?
Talvez aí encontre a paz,
igualmente o esquecimento.

Ando em busca da eternidade
em cada momento,
no entretanto desta senda.

Por enquanto viverei.

Enfim,
terei de pagar a renda...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O Segredo

Sob o véu que esconde os teus olhos
Reconheço o vulto de profundos enigmas…

E os devaneios…

Sorumbáticos devaneios que me invadem,
Sonhos arcanos e alheios,
Prenúncios áticos na intuição.

Sei lá de onde vêm,
Sei lá o que são…

São teares de seda que me enleiam
Num urdido de volúpias.

Tecido de desejo,
Mãos que me tocam
No sentir de um beijo.

Sob esse véu de cor anil
Profano e sagrado,
Escondes a doçura pueril
Do teu rosto,
E encobres teu corpo alado…

Compasso composto,
Melodia de um vento
Que escoa em alento doado.

Desvenda-te mistério
Perante o meu olhar atento.

Sou escravo desta busca
Pela pedra filosofal.
Sou eterno estudante
Da filosofia e da alquimia,
No intento de alumiar o oculto.

Quero descobrir o vulto.
Quero saber quem és.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Menina manha...

Abro os olhos sobre o romper de um dia tranquilo,
espreitam paisagens serenas,
de plenitudes amenas.
Sobressai o teu sorriso
na emoção das planícies terrenas.

Menina dos bons dias,
portadora de alegrias,
transformando a cinza das imediações
em mil cores diurnas,
profundas em si mesmas.
Transparência das sensações,
tens a visão semicerrada
pelo sono da alvorada.

Segues a tua trilha
com a incente confiança
de uma criança maravilha.

Sonho matinal que percorre o meu corpo,
sumo natural que bebi dos teus lábios,
doce néctar da vida,
Sabor de amor e de sal.

Sol nascente,
céu azul,
praia lavada,
amplo tule de seda,
diáfano por momentos,
inacabado...

Rosto molhado
na manhã fresca que rompe
numa luz paulatina.

E eu que sorvo estes elementos
na dança que me contagia.
Bom dia menina,
Bom dia alegria...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O mundo é o caos

Quem sofre acorda.
Quem ama pode ver...
Quem anda faz o caminho,
Sobre um caminho inexistente.

Não há um rumo...

Tem rumo quem faz rumo
e quem ama, pela verdade,
a vontade de caminhar.
Quem se concentra
em objectivos
sem desvaires do olhar.

De contrário, por distracção,
perde-se no inferno e na dor
e no caos de todo o mundo.
Perverso odor de vidas...

Silêncio.
Escuta o silêncio soturno...

Vive e realiza.
Acorda para ser
e amar ao ponto de doer.

Silêncio...
Atenta teus passos
porque não ha rumo...

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Outubro Justo

O Outubro Justo é um festival de activismo e toda a gente está convidada, tu também. Durante o mês de Outubro, em diversos locais do Porto, acontecem várias actividades para promover o Comércio Justo e para expor problemas graves do actual sistema de comércio internacional, onde os direitos humanos são tantas vezes menosprezados em favor de maiores lucros. Este festival não tem fins lucrativos e toda a gente participa por Amor à causa, desde quem cede os espaços, aos formadores, aos músicos, toda a gente. A entrada é livre em todos os eventos. Vem pensar, debater e tomar chá do Comércio Justo. Vê o programa.

dia 6, 21:30, na CasaViva
- projecção de documentários e debate
- concerto de António Serginho & Co.

dia 11, 21:00, no Mutantes
- Fair Tales Workshop de Deidré Matthee

dia 13, 21:30, no Chã das Eiras
- workshop de consumo responsável
- concerto de Jorge Cruz

dia 20, 16:00, na CasaViva
- workshop de culinária justa
- histórias de Thomas Bakk

dia 20, 19:00, na Loja de Cedofeita de Comércio Justo
- formação de voluntários da Reviravolta

dias 22, 23 e 24, 21:30, algures*
- workshop de teatro-fórum de José Soeiro

dia 26, 22:00, na Praça dos Leões
- apresentação do teatro-fórum

*mais info
phelgo.com/outubrojusto

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Amor

Ao despertar
soube que, de novo,
as cores estariam vivas...

O libertino amor
que me desprende as asas,
invadiu os meus campos,
fazendo desabrochar as florzinhas
timidamente escondidas.

Hoje bebi agua de cristal
ao despertar, ao sol nascente...

Bebi o sentimento que proclamo,
ainda de olhos fechados pelo sono
e pressenti o peito aberto, transbordante.

Tudo o resto à minha volta
parecia estar inerte,
indiferente e semelhante
ao sempre das manhãs.

Mas eu não.

Instancias

Nascente da inspiração,
espaço contemplativo,
ocasião da alvorada...

sobre a manha do novo dia aberto
longínquo late meu coração desperto.

Permanente madrugada,
advir latente da desilusão,
profuso olhar profundo,
expansão da mente,
fecundo pensamento difuso.

Visão matricial
da divina irrigação
em plano constante...

Evasiva jactância
de uma cascata mineral
em sangue fluente,
percursor das distancias.

Propulsão da criação,
sentido errante,
submundo distante,
entrega, vontade, amor, instancias.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

INFORMAÇAO DE ULTIMA HORA

Agora no espaço da boa gente, encontra-se um link novo: PSICO-RISCO. É o meu blog de desenhos...

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Framboesa...

Depois de ti é nada,
O vazio apodera-se de mim,
Poetica emoção...

As cores submergem
Num triste monocromatico
O pensamento fica estatico,
Deprimido por ser ilusão
Esta visão do teu rosto.

Depois de ti é o deserto
E a morte à espreita,
A sede dissecada,
Areia quebrada,
Delírio, imagem tropical,
Frutos, cachoeiras...

Doce fruto sumarento,
Agua cristalina, profundo azul.
Arvores de braços abertos,
Folhas verdes tapando o sol
Que brilha de esgueira.

Doce amor profundo,
Leveza do ser,
Voo na brisa ligeira.

Contigo vejo flores no passeio
Das ruas urbanas.
A vida é vida,
A luz, presente,
O ruído, distante.
Contigo é ser, estar e amar.

Acalmas esta minha ansiedade
Que por vezes me atormenta,
Exaltas o melhor de mim.

Na tua presença
Não ha necessidade,
Ha um querer estar,
Consciente, presente,
Pura vontade.

Não ha paixão,
Não ha confusão,
Ha verdade,
Intensamente, verdade.

domingo, 12 de agosto de 2007

Dualidade

Arame farpado,
óleo de motor usado,
perdizes no campo de tiro,
origem do mal...
Ouro contemporâneo,
recrutas marchando,
abençoada paz irradiante...

Pássaros cantando,
montes verdejantes,
fontes e lagos brilhando,
o rio crescendo
desemboca na eternidade,
sol laranja poente,
futura manhã a nascente.

Dualidade divina
minha vida terrena,
dança de voltas trocadas
e no olhar a certeza
da vontade profunda.

No andar a atenção focada
sobre a luz do peito flamejante.
No passado manchadas as feridas
caderno de um jovem estudante,
paginas de lições vividas.

Quanto por querer,
paixão sem final,
amor divino,
sexo feminino,
manancial.

Ouro e perfume

De prantos escondidos,
Solidão de pureza
Procurando o abrigo
De quem a quer,
De quem a leva.

Por caminhos desleais
O ser se esvai…
Transcorre no peito
A exaustão do humor,
A ilusão.
Tensão muscular,
Perdição cerebral,
Quem sou eu afinal,
Esvaído,
Qual lago de sangue,
Quem sou eu afinal?

Procuro apenas a verdade,
Apenas um algo...
Algo que não sei se existe.
Quem sou eu no final deste poema
Que desemboca em mar eterno,
Oceano de duvidas, incertezas,
Oceano de possibilidades.

Ouro e perfume
Afinal,
No final…
Maçãs podres…

Qual é a diferença
Por quem me dou,
A quem me entrego…

Ouro e perfume
Labaredas de amor
Sou o esplendor e a vida,
Sou quem sou.

Sou ser vivo,
Simples sou,
Eterno e potente,
Ouro e perfume,
Brasas e agua,
Chuva de caos
Sou eu.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Magia...

Quero-te por querer…
Apaixonar-me,
Deixar-me ir... dançar…
Pezinho de voo arabesco…

Quero-te por querer
Submergir no que somos,
Inspirar profundo
Um sentimento vadio…

Tenho o teu silêncio,
Foi lá que nasci,
Tal como tu.

Tal como o teu sorriso,
Foi lá que eu sorri.

Tenho-te comigo!

terça-feira, 10 de julho de 2007

Os acordes do desespero...

Alma minha,
escondida pela inércia,
privada da solidão madura...

Tremor de terra lavrada,
prados de areia escura,
desertos de incompreensão...

A noite esvai aberta
pelo raiar da madrugada
e eu sentado aos pés da escada,
palhaço sonhador, olhar soturno.

Louvor de brilhos dispersos
entalados na garganta
de um fadista calado
pelo pranto interno,
sentido em versos vadios,
triste memória do fado...

Alma minha,
solidão impura...

Insegurança e ansiedade
escondem o teu rosto divino,
em lagrimas de mudança lavado...

Vontade de um amor vespertino
ou simplesmente loucura.

domingo, 8 de julho de 2007

Atenção: "r-Amor" no Link... :)

O la... :)

A ntes de mais, envio-te este anexo com um livro que foi escrito pelo Phelgo... Chama-se "boo.boo.ah."
M as, eu pessoalmente, diria que mais do que um livro, é a introdução a uma revolução de vanguarda. Uma revolução pela vida.
O lha, é aqui que nasce um conceito que, tenho a certeza, vai dar a volta à cabeça de muito boa gente... O "r-Amor".
R epara, " Isto ainda não é o manifesto do r-Amor", é apenas o início...

É o início do fim do mundo, aqui... O fim do mundo tal como ele é.

O conceito do livro ja todos conhecemos, mas é sempre bom lembrar, ou melhor, trazer ao consciente.

P orque a verdade é que todos sabemos a solução para um mundo melhor, mas nem sempre nos lembramos dela.
O paraíso está em nós, é apenas um ponto de vista que podemos escolher... Um ponto de vista em milhões de possibilidades...
N ada pode impedir um ser humano de chegar onde quer.
T udo depende da sua verdadeira vontade, e da certeza do seu objectivo.
O mundo está muito belo, muito bem feito, mas será verdade que é perfeito? Não haverá erros?

D epende de nós saber, ou descobrir...
A verdade é que quando descobrirmos como testar a realidade, a nossa vida torna-se tão mais bela e preenchida, tão mais simples...

T ens tudo o que precisas, para fazer parte da geração do mundo novo...
U m link para um livro, uma mente para pensar, e um coração para amar.
A gora, tudo depende de ti. Estás pronto?

P A R T I D A !!!
http://www.phelgo.com/boo.boo.ah/index.html

:)

sábado, 30 de junho de 2007

Olhar

O olhar semicerrado
atravessa o vazio das cores
e perde o rumo...

Segue a razão,
prestes a alcança-la.

O teu olhar que me invade...
Os teus olhos semicerrados
infiltram-se no vazio das cores
e perdem o rumo…
Os teus olhos
que entretanto abriram,
perseguem o som humano,
caminhando nas flores
do teu pensamento.
Olhos que brilham com alegria,
a alegria própria ao dia
que nos arrasta até ao fim do alento...
A tua alegria plena de vida,
que sobrevoa as planícies áridas da sociedade…

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Dá-se Amor

A ideia era criar um movimento inspirado nos abraços grátis. Parecia-me que a ideia de abraços era bela, mas faltava-lhe algo. Foi quando me surgiu a ideia de acrescentar amizade e alegria ao conceito. Mas como fazer isso? Um sorriso é algo que é fácil provocar, e até uma gargalhada, mas a alegria, o sentimento, a emoção do amor, isso é mais difícil, porque implica interferir na vida das pessoas.

Então, como criar um laço com um estranho? Primeiro de tudo a intenção: se queremos interferir na vida das pessoas, temos de ter uma intenção pura e se a intenção é a amizade, todo o nosso ser tem de estar voltado para essa intenção. Temos de nos focar e ser verdadeiros. Para isso temos de estar bem connosco próprios, e apenas podes estar bem com uma pessoa, se estiveres bem tu mesmo. Portanto, se não estiveres bem, a todos os níveis, se não te sentires no máximo das tuas capacidades, não utilizes esta prática. A partir do momento em que nos sentimos preparados e temos a certeza da nossa intenção, podemos criar laços com seja quem for. Depois disso, é pura criatividade com o objectivo de servir a outra pessoa, aquela que a vai receber, à amizade. Quando interferes no meio da outra pessoa e és capaz de a fazer sentir alegria, então estás preparado para criar este movimento, inspirado nos abraços e na alegria.

Este movimento chama-se Dá-se Amor. Quando interferes na vida de alguém tens de ser responsável e ter a certeza daquilo que estás a fazer, mas isso torna-se complicado uma vez que o nosso egocentrismo (ou ego, como lhe queiram chamar…) está constantemente presente. Então, para praticar o Dá-se Amor, tens de eliminar o ego da acção. E qual é a única forma de eliminar o ego de uma acção que queres praticar, uma vez que ele faz parte de nós? É nós não fazermos parte (fisicamente) da acção em si. Fazendo parte apenas da intenção e da projecção da mesma.

Neste caso, o único que podes fazer para transmitir amor a um estranho (além de tu mesmo seres feito de amor) é conhecer o seu meio ambiente, os seus amigos, etc. E através da criatividade e de um pouco de psicologia (não esquecendo a pureza da intenção e a simplicidade), chegar ao coração da pessoa e fazê-la sentir uma pequena alegria que seja, mas uma alegria verdadeira... (daquelas que emocionam e por vezes nos fazem chorar...) Como por exemplo, perguntar quando foi a ultima vez que essa pessoa deu um abraço em alguém que gosta, e lhe disse isso mesmo, que gosta dessa pessoa, que a ama, e que com egoísmo a quer para si... Mas o mais importante não é simplesmente transmitir esta ideia, mas certificarmo-nos de que a pessoa em questão a põe em prática.

O objectivo do Dá-se Amor é permitir a um grande número de pessoas receber amor. Receber aquilo que raramente nos é transmitido conscientemente. O objectivo é que a verdade do amor se torne algo de mais comum e consciente na vida das pessoas. Quando as pessoas dão e recebem amor com maior frequência, tornam-se melhores pessoas. Se todos fizermos isto uma vez por dia a um estranho, o mundo tornar-se-á (mais rapidamente) um sítio melhor.

Os Lobos da Madrugada

Bacano toma atenção,
tem cuidado com a palavra
não faças a tua lavra
em prados de ostentação
Não vás terminar no foço
e ninguém te dê a mão
sem terra nem palavrão
enterrado até ao pescoço

Bacano larga as malas
não queiras guardar a vida
olha que ainda resvalas
ao trepar uma subida
No topo desta montanha
o fardo não vale nada
ficas em pelo sem manha
entre os lobos da madrugada

Bacano deixa a história
tu ficas e ela segue
sem visão que te sossegue
não te percas na memória
de uma gaveta fechada
numa casa abandonada
os fantasmas da parada
e os lobos da madrugada

E ai de mim esse mistério
que vou parar ao cemitério
não quero viver cem anos
sem deslumbrar desenganos

Bacano vem lá embora
não ha tempo para demoras
a vida é mesmo agora
e o passado ja morreu
não te percas nesse breu
porque nunca mais acaba
sobe o poço e ergue a espada
com sangue que seja teu

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Calem-se estas vozes!!!
Por Favor
Silencio

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Mensagem do Phelgo:

Uma produção do Filipe La Féria, com encenação do Rui Rio.
Agora em cena, no Rivoli.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Viagens...

Em dias de sol pela natureza,
à sombra das folhas verdejantes
casam-se andorinhas viajantes
vestidas de amor, com leveza...

A sua alegria vem despida
para voar em liberdade
porquanto de naturalidade
é feita a alma da vida.

Depois do sol submerso
namoram o reflexo do luar
e edificam sonhos a sorrir...

Sob a harmonia do universo,
adejam melodias de encantar,
mas tornam no outono a partir.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Hoje...

Quero estar comigo
sem solidão ou tristeza,
estar ao abrigo da beleza
da vida inteira.

Procuro sem pensar,
um reflexo de luz ligeira
que me permita amar e sorrir
na amplitude do que sou e vejo,
largar este peso é o meu ansejo,
voar pelo caminho, evoluir...

Anjo...

O teu sorriso merece o mundo,
o teu abraço a conexão perfeita,
em harmonia com o universo
que nos envolve em vazio...

O teu olhar profundo
faz-me penetrar incisivamente
a ferida aberta pela escuridão
na minha alma.

O tema do nosso reflexo,
que me faz olhar perplexo
a calma que me demonstras,
deixa-me inquieto...

Quero resolver a questão
do tema do nosso reflexo.

Sinto que me está destinado
e quero receber o ensinamento,
mas não sei se estou preparado
ou se este será o momento.

A verdade é que morro
no desespero de iniciar o processo
mas não sei se ja sei amar...
E a ti meu anjo, só te posso amar,
a ti, só te quero amar.

Não basta o suficiente,
não basta o intensamente...

Não me posso permitir
o medo que intimida,
o mesmo medo que me magoou
por mefazer magoar-te.

Vem este medo antigo...
Tão velho como eu mesmo,
mais velho que este meu corpo.

Vem ele junto contigo,
vêm sempre,
devagar, pacientemente,
como dois velhos sabios
que vêm para ensinar.

E eu fujo à lição...
Lição que desejo aprender.
Qual puto reguila...

Fujo sem o querer fazer,
a vontade é de ir e viver
porquanto anseio
experimentar o que preciso...

Provar o fruto
que me permitirá honrar
o valor de que esse tema
deve por mérito ser prendado.

Esse tema delicado
que é fundir a dualidade
e gerar um ser maior,
infinitamente mais completo

Esse tema delicado
que é amar...
olhar o horizonte
e andar lado a lado.

Um passo por vez
com atenção em foco,
as mãos dadas em união
sobre a fogueira acesa,
fonte de inspiração e criatividade,
alimento do motor orgânico;
corpo do tema em questão:
ser contigo unidade...

Morte e renascimento...

Ontem caí de rastos na terra,
com a morte aberta na mão
chorei com a chuva
sobre o rio que me leva...

chorei a morte de uma paixão,
fim de uma guerra.

Pelas lagrimas de prata
ergui o meu rosto lavado
percebi que batalha nenhuma
é celebrada, não sendo pela conquista.

Compreendi a loucura de meu pranto,
esmaguei a dor entre os dedos,
levantei-me e sorri.

O nascimento veio entretanto,
num silvo agudo
liberado por um passaro
que planando abre as planicies
e sobre as serras se esvai,
tela de seda em liberdade...

Apanhei o seu voo intenso
levantei sobre o nevoeiro denso
e as águas do peito vazaram.

terça-feira, 1 de maio de 2007

A despedida...

Adeus meu amor
Levo meu peito esculpido
com formas excêntricas
novas formas
que completam a minha essência

Adeus ó mar
tudo o que sabias
tudo me ensinaste

Agora levanto na haste
a bandeira desta conquista

Estanco o casco
Descalço meus pés
abro meu peito eremita
e revejo-me partir
pelas areias deste deserto

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Três...

Prendes-me com o olhar
e com a flecha que cravas
na emoção do ser que há em mim...

Abre-se um rebento de flor
no meu diafragma trespassado,
que libera uma libélula azul-prateado,
adejando sobre o propulsor do meu sangue,
ascendendo em espiral
sobre as vertebras
na direcção do olhar interior,
do tufão que conduz ao infinito...

Sabes e fazes isso.
Mas repulsas-me com palavras
e supostos sentimentos
que não revelas transmitir.

Essa flecha divide-me...
Por um lado, sereno e ausente,
impaciente por outro, exaltado...

E assim me quedo, dividido,
a observar os diferentes caminhos
que percorre cada uma das partes.

No fundo, até fico agradecido...
Feliz por absorver novo nectar.

É esse sumo que me faz falta,
quero beber...

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Ultimamente...

Quando a luz chove radiante
pelas manhãs tranquilas,
ou quando incide perpendicular
sobre meus ombros caídos,
sinto vazio meu corpo,
despido da alma fugidia
que teima em se desprender,
deslocar, ausentar.

Tudo se repete quando
o lençol nocturno abrange o céu
do meu pequeno mundo.
Vazio meu corpo, despido da alma
que teu rosto persegue,
que a tua alma encontra,
abraça e reflecte.

Vazio meu corpo dormente
da mente pensante,
de ti sonhadora e amante
que no teu olhar se prende e pretende...

quarta-feira, 25 de abril de 2007

A luz que procuro...

Sou prisioneiro desta emoção
que me faz tremer de medo
e que me faz sentir a vida ardente
escondida no peito.

Ensina-me, meu amor,
aquilo que não sabes ainda,
o grão de farinha branca
que apreendes sem saber
e possuis sem conhecer.
É essa partícula da verdade
que necessito absorver.

Minha mestra preserverante,
sei que devo serenar meu coração,
mas como posso fazê-lo
se os meus sentidos se apuram
quando te adivinham por perto?

Como posso fazê-lo
quando aquilo que sinto por ti
me faz contemplar a tua perfeição?

Sou forçado, minha paixão,
a dar-te asas para voar,
porque desconheço a liberdade
quando contigo não me encontro
e não te quero aprisionar.

Quando não te abraço
fico preso à tua imagem.
Mas se não te amo, tampouco te possuo
e pode em mim voar serenamente a liberdade.

Se me fizeres compreender
este pontinho de luz que me falta alumiar,
tornarme-ei um ser maior
e os meus olhos abrangerão
mais amplamente o horizonte.

Só dessa forma te poderei amar
e sentir a liberdade.
Essa mesma ave que sinto
sobrevoar as planícies
da perfeição interna.

A doçe vibração divina
que me abraça de vez em quando,
deixando sereno meu peito,
minha mente em silêncio,
meu corpo relaxado
e minh'alma preenchida.

Desfragmentado meu ser se queda,
unido à harmonia natural da vida,
fluindo em paz radiante.

Assim te quero amar,
silenciosamente e em paz.
Com amizade e confiança,
livremente na verdade,
por mútua evolução
de extasiante presença.

Quero amar-te por realidade,
sem angústia nem expectativa.

Ensina-me mestra, portanto,
o que é iminente aprender,
pois quero amar-te na eternidade,
sentindo a vida que hoje canto,
quero amar-te sem sofrer.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

A Luzinha...

A Luzinha apareceu assim, do nada, mais ninguém deu por ela ali, esvoaçante e pequenina à saída da estação terminal, em S. Bento, no Porto.

Era um desses dias de abril, talvez o decimo oitavo... Um desses em que o sol brilhava quase como no verão. Mas o pólen irritava-me o nariz, por ser abril e por a brisa me acariciar assim, suavemente.

A minha Salvação foi lembrar-me de ir para o rio, onde o polen ja vinha fresquinho. Ela esvoaçava ao meu lado. Não me disse de onde veio mas eu percebi logo que viera das estrelas. Notava-se pela forma de andar e pela maneira como piscava os olhos. Mas só tive a certeza disso quando ela me contou que conhecera o princepezinho, ele que morava - sabia eu - num planeta distante, perto das estrelas. Quando me contou isso, eu vi fosforescer um brilho distante nos seus olhos azuis clarinhos, que alumiou as sardas pequeninas do seu rosto esguio de pele clarinha. E nesse instante eu tive a certeza.

O sol estava a descer vermelho sobre a foz, deixando o céu de uma cor vibrante, deixando as casas de uma cor vibrante, deixando-me a mim vibrante, mas de uma cor diferente, ainda mais intensa por receber os brilhozinhos que a Luzinha me enviava. Pairava alegria à nossa volta e gaivotas.

Depois disso ela despediu-se de mim, dizendo que tinha de ir visitar a mãe que morava no centro da terra. Uma senhora muito responsável, que tinha de manter o centro da terra bem quente e limpinho, para que nós, os seres humanos pudessemos viver a nossa vida descansadinhos, sem que nenhum vulcão irrompesse assim no meio de nenhures. E então, lá foi ela. Assim como apareceu, desapareceu também para debaixo da terra, mas não sem antes me dizer que depois de visitar a mãe nos voltariamos a encontrar.

terça-feira, 10 de abril de 2007

O estranho...

No meu inconsciente mora um estranho, escondido, e nunca se mostra a ninguém. Por vezes procuro avistá-lo em algum espaço recondito da maquina de pensar e, esporadicamente, reconheço o seu vulto entre a escuridão, esgueirando-se pela confusão e o pó do velho sótão.
Não o conheço. Não posso falar dele. Mas já me tem acontecido entrever os seus olhos, no olhar de alguém. Nalgum desses mestres que me falam todos os dias, alguns conhecidos, amigos, alguns desconhecidos, por vezes até inimigos.
Sim, por vezes dou por mim a pensar que o meu estranho conheçe o mundo melhor que eu, conhece os outros melhor que eu, conhece-me melhor. Aos pouquinhos vou percebendo melhor a sua essência, mas nunca o entrevi numa mirada. Nunca compreendi as suas palavras, nem apreendi a sua totalidade. É como se ele se dividisse em fragmentos que completam o meu âmago. Mas o meu ser parece tão pequenino à medida que vou iluminando esses pedaçinhos de sombra, no intuito de crescer...

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Num lance de paz

Perto do momento laranja
em que a luz mergulha
profundamente no vasto oceano,
sentindo a brisa no corpo
e seu perfume de algas,
descanso minh'alma no voo eterno
que este horizonte desprende.

Perplexo se estagna meu ser
por apreender o estrondoso amor
que o mar demonstra à terra,
envolvendo os rochedos num beijo.

Tão pequeno me vejo,
palpitante meu peito
extasiado de amor e respeito.

Respirando orvalhos ao vento,
acalmo a ansiedade interna
porquanto o universo me embala.
Em proveito desse esplendor colossal
chove sobre mim o alento da vida
e eu sorrio enquanto o silêncio brota
como um rebento de flor adormecida.

terça-feira, 3 de abril de 2007

...

A eternidade não tem data,
não tem fim, não tem início.

A eternidade arde eterna na lama
onde me tenho escondido.

Porquê existir?
Posso bem morrer sozinho!
Sei que não tenho de ser…

Nem de dar
ou viver o que tenho a perder:
esse imenso que faz chorar.

Mas também sei que posso... Sim!
Tenho o poder
Trata-se apenas de uma pequena escolha.

Escuta…

Escuta este canto baixinho… O vento…
Consegues ouvir?

E sentir o odor da confiança
quando ela é inabalável,
e o mundo e as estepes
e as formigas se prostram a teus pés,
com dignidade e alegria,
com humildade e amor ardente…

Sei que esperas dormente,
sei tudo o que tu sabes,
porque sou eu também
quem espera solitário e impaciente
por entre as valas cavadas na terra,
os risos que sucumbem na guerra,
veias de fogo em torrente.

Mas olha… Vê:

O caudal do rio crescente,
Impotente quando nasce tão doce na fonte,
mas termina colossal e salgado
num horizonte potente, alargado…

Junto à luz sagrada que adormece
e levanta alvorada de amanhã a nascente…

A eternidade não tem ontem, nem amanhã…

terça-feira, 27 de março de 2007

Exaltação

A permanente possibilidade da morte
Deixa um rasto de alegria
No caminho terreno da jornada,

É por conhecer o perigo
Que a vida tem sentido;

E basta um ínfimo,
Para o ponto final ser colocado.

Mas não é por conhecer o risco
Que vou caminhar devagar,
Pelo contrário,
Quero correr!...

Quero correr na corda bamba
Enquanto ela ginga,
Saltar no ponto mais alto
E saber que tenho mais vida…

Quero erguer as mãos no pico
Da maior montanha e gritar,
Gritar bem alto:

É preciso lavar a cara na chuva
Amando cada gota,
É preciso sofrer na queda
Mas querer voar de novo!...

E ouvir o eco…

terça-feira, 6 de março de 2007

A verdade...

A verdade deste amor que sinto
é este amor, que eu sinto.

A verdade é que eu corro
assim como o que em mim fica
e enquanto estou parado,
o visionamento condicional
faz-se incondicionado...

É como um raio na luz,
verdade que não sobressai
enquanto se inscreve a beleza.

É como pedir a um pobre
que tire o mundo de um bolso,
com um sorriso nos lábios,
antes de caír no sono.

Quando eu tinha 20 anos...

Tenho uma especie de blog no livejournal e ja lá não ia havia muito tempo (Ver no link jornal do vilinha). Descobri lá um texto de apresentação muito engraçado, que me trouxe muito boas memórias e diz assim:

Boas... O meu nome é Vitor... Tenho 20 anos, vivo em gaia, trabalho no porto, paro em espinho... Gosto muito de arte... e escrever é algo que ja faz parte de mim, escrevo sempre, porque axo que ha sempre algo para ser escrito... Toco bateria e tenho umas bandas de amigos, onde me liberto e me sinto eu mesmo... O meu sonho é viver da música e/ou da escrita. Ando um pouco a descobrir a liberdade e a vida da cidade... Um dia hei-de ir para africa e ficar lá durante um bocado, outro dia hei-de ir para o campo, numa aldeia na montanha, talvez em andalusia, não sei bem, e nessa altura vou ter umas cabras e e umas vacas e uns cães e uns gatos etc... sempre sonhei estar no monte sentado numa rocha, a olhar as cabras e as ovelhas e o céu, e toda a natureza, enquanto escrevo, talvez um poema... talvez um texto de prosa... n sei bem... espero eu... A minha estrela, é o Sol... sou muito influenciado pelo sol, a minha estrela da manhã... Ah, sou leão, um leão muito sensível... mas claro, bem disposto e sempre positivo, ou quase... até porque um poeta tem sempre aquele bichinho da solidão que por muito triste que seja é lindissimo... Espero poder partilhar com alguém a minha poesia e por aí... Ah falta-me falar do Tom Sawyer, que é o meu personagem preferido, de sempre... até tive uma casa não era bem na árvore, mas era um celeiro daqueles que ficam no alto... estava abandonado e eu e os meus amigos iamos para lá... ainda me lembro dos raios de sol a entrar pelas frestas da madeira velha... era lindo... tinhamos uma árvore nossa amiga (era mesmo este o nome)... hai ai... e roubar maçãs, brutal... Bom este é um bocadinho de mim... um grande abraço para todos... e claro, sol para todos...

quinta-feira, 1 de março de 2007

Caminho de ferro

Estes carris de ferro que trazem alegria,
Escondem momentos belos, inesquecíveis.
Conhecimento, apresentações,
Descontrolo e emoções,
Tudo misturado num devaneio de sensações.

Comboio que vieste de um mundo
Que não é o meu,
Mundo demasiado fantástico,
Trouxeste-me flores carregadas de sonhos,
Possíveis amores que me fazem voar.

E palavras foram ditas,
Como melodias suaves cantadas por deidades.

Agora procuro na estação
Que voltes aos carris de lembranças.
Quero ver-te de novo a marchar
E relembrar essa longínqua sensação.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

No fio da navalha

Filho da rua, andas descalço, cantando,
Órfão e portanto conheces o perigo vivo,
Mas ris e deixas passar.

A vida é tua, olhas por dentro
E vê-la nua, na rua.
Esse lugar, escondido
Debaixo do olhar,
Perdido…

Perdido mas não esquecido,
Simplesmente disfarçado,
Cautelosamente abandonado.

E tu, filho da rua,
Atulhes esses locais onde nasceste,
Estás a mais.

O teu andar perturba o descansado e de boa gente,
O elegante e inteligente, esse que fala com bom acento,
Eloquente ao pronunciar a sentença,
Por ser dono de tudo o que manda,
Ou assim pensa…

Ele que estuda e percebe,
E tem conhecimento de tudo até aos céus,
Mas que não sabe, ou não quer
Levantar os véus macios, de veludo.

Esse que conhece toda a verdade,
E no entanto não pára para olhar
A realidade.

Pois só tu, filho das ruas,
Que és pobre e verdadeiro,
Entendes o mundo inteiro,
E todas as mortes são tuas.

És tu que as sentes,
Desamparado e selvagem,
Para que os outros as vejam,
Esses filhos de boa gente,
Que riem estupidamente,
Ou tudo de bom te desejam,
Por um minuto somente,
Talvez só um segundo…

Esses livres cativos que,
Ao ver-te a ti vagabundo,
Se por clemência acordam,
Podem mudar este mundo.

Depois da Noite

Hoje, depois da noite
Acordei de um sono profundo…

Levantei-me depois de uma vida
E sabia que queria acordar.

Hoje o mundo estirou-se,
Espreguiçou-se e conheceu a dor de mim.

Caíram lágrimas do meu rosto,
Escorreu o desgosto de ser só.

Abri os olhos, o sorriso e o coração,
Que bateu ritmado e lento,
No equilíbrio balançado de viver…

É dia na minha alegria vivida,
Bom dia…

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Para variar...

So para distrair um pouco o olhar, escrevo agora um texto sem o formato dos poetas, para pronunciar as palavras que sem querer rimar se esgueiram como lebres rasgadas no peito, de olhar tenso e profuso, estacionado num lugar bem focado pela retina concentrada no alvo a alcançar...

Sim, é o "ar", ar que repiro, o mais presente amigo dos poetas, em qualquer frase sem terminar. O mais presente amigo quando não o consegues nem pretendes evitar... A estética não morre com as palavras, nem de alguma forma o pretendo permitir, sempre e quando seja o conteúdo verdadeiro ou, de alguma forma desejado projectar.

Ainda assim, temos sempre a possibilidade de ir passear até à beira mar... Para variar.

habitante da vida

O tema deste profundo...
deste por dentro...
é um sorrir que se eleva,
uma canção que dança no ar...

A oração que profere
no batimento cardíaco
é expressão que irrompe
explosiva nas veias,
por gratidão e vontade.

Rima por dentro da fase
receptiva do verso,
frase de um pensamento disperso

que se congrega na mente
de algum poeta inocente,
habitante da vida ao passar.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Amo-te porque estou vivo...
Assim é o meu amor por mim...

Eu amo por amor,
amor este que me inspira...

Amo-te
mas não preciso de ti,
amo porque estou aqui.
Quero-te,
por te querer,
apaixonar-me,
deixar-me andar...

Mas não te posso ter,
sem que te deixes levar
não te posso amar
se não permites acontecer.

Quero-te por te querer,
para aprofundar aquilo que somos,
repirando um sentimento profundo...
Ama-me também e dou-me a ti...

Não me ames
e ja esqueci.

Está tudo bem!

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Deus


Sonho

Oração ao sagrado feminino

Quero saber... Saber quem és. Olhar o fundo do teu ser, reconhecer aquilo que também existe em mim, aprender aquilo que é nevoeiro condensado sobre a visão que distingo, construir um universo diferente e novo... Quero saber.

Sei quem podes ser. Quando sonho acordado vejo aquela parte da vida que brinca também. Que luta também, na participação desta grande construção criativa. Vejo a parte da vida que transportas contigo, no peito, nos olhos, nas mãos... Sinto a criatividade que a tua presença preserva, envolvida nesse invólucro resplandecente que é o teu corpo. E palavras não bastam para descrever tudo o que podes ser, todo o oceano de possibilidades que significa o teu potêncial. Magnificência divina, luz, sombra e matéria. Esplendôr. Mas tú és ùnica. E afinal que mais importa acima disso? Não sei.

A mim, servidor do divino integral, cavaleiro da harmonia na ordem de uma flor de liz, apenas me importa o serviço à luz, do amor. Para mim, nada mais importa , nada mais desejo, além da escolha que hoje faço em nome da causa. E durante todo o tempo que a viagem me requer, juro por honra de meu nome , empunhar a missão com todo o meu poder, alma e glória. Assim entrego a vida que sou , abro o peito e invoco meu coração, cofre do diamante interior que à tua alma ofereço. Como símbolo da união que pretendo construir contigo, e da escolha que faço em ser teu.

Posso não saber quem sou. E por este motivo não digo quem te ofereço. Mas sei o que quero. Escolho a tua alma como portadora da fonte de conhecimento que anseio beber. Fonte da eterna alquimia. Da mesma maneira aprendo quem és e dou-te de beber. Fazemos assim o amor sagrado, através da união dos fragmentos que nos constituem. Recriamos um ser unico e uno. Pulsam nossas vidas em uníssono, como melodia revibrante da harmonia no absoluto da eternidade cósmica. Quero ser.

Aqui

Sim, sou eu, aquele que habita
as profundezas indivisíveis
da manifestação existencial.

Vim mas não sou igual.
Escolhi o caminho,
decidi a jogada
e pensei não voltar atrás,
mas todo o medo se arrastava
pesado e cansado comigo,
sugando-me a cor e a paz.

Desembarquei mais tarde contigo,
perdido e afogado num mar...
Estranho mar desconhecido
sem águas nem peixes nem algas nem ar.

Mar sem mar,
atmosfera vazia
tal como a vida que encontrei
despida da essência
de abarcar minha ausência.

Despertei em angústia
envolto em plena presença
deste eu abandonado,
sobriamente inacabado.

Ebriedade puríssima,
santissima trindade
contra quem erro,
por quem sigo trilhando
todo o caminho
que se me vai esfumando.

Enevoado pudor
terrível e desconsolado
que esconde o meu fulgor,
ofuscado por sombras
onde me encontro voando.

É aqui que sinto e que penso,
apreendo a essencia do ser e do não ser,
aprendo a viver.

Shar

Babood Ash Nad Uh Djahh
Ic Sxtenei Ahg Dei Jahd
Burhg Lad Fate Runa
Burg Uhd Hachanda

Late Shandi Sut Sare Hadi
Moon Huda Sale Amor Ati
Mane Mane Lati Cut Carandra
Rama Shati Cura Yed Irmananda

Mamna Hadigud Dei Shaman Shar
Djidjee Irmananda Gore Jahd

Quem sou...

Ó estranha preserverança,
Ó longa e deprimente inércia,
donde me levam?
Quero saber!

Desconheço a terra de além agora,
já não recordo vida nenhuma
antes de hoje, apenas percebo sensações mentais recriadoras
de um suposto passado
que nem sei se existe.

De um momento incerto
surge outro e eu vivo na incerteza
(se é que vivo...), na esperança, no impasse...

Ó longa distancia que percorro parado,
diz-me onde me levas.

Mas, porque pergunto?
Será que quero saber?
Não sei quem sou.

Serei quem sei que é tudo o que pode ser,
fragmentado, como uma peça fora do puzzle?
Quem sou eu me Deus?
Quem somos nós?...

Poderoso sentir

Poderoso sentir de orgulho especado,
escondido da sombra, do olhar esmagado,
horizonte perdido, cortado nas palas da mente.

Aço de incertas colheitas, sementes de erro crasso
porque se esgueiram neste tempo de miséria,
mas a corrente de vida não passa por fora
desta nossa carapaça... desgraça.

Porque se esgueiram e escondem
do poderoso sentir que trespaça?
Porque me esgueiro e escondo
do poderoso sentir?...

Quero rasgar estes olhos
e absorver a envolvente história
que me corroi a memória,
dar-me conta um segundo,
porque o fruto da busca
é de cultivo fecundo.

Tensão irrisória

Tensão irrisória,
complexidade ilusória,
comportamento incerto,
integridade perdida...

Sente assim as pedras
desta frequência dormida
que te faz sentir deserto
sem vida por perto
por mágoas do peito.

Intensão desigual sem conceito
ou visão qualquer da dor...

Essa profunda compreensão
por experiência sentida,
que te permite entrever
num olhar de esgueira
a luz fulgorante e intensa
de algo a que chamas amor,
numa perfeita magnificência
quase palpável de assombroso
e estonteante esplendor...

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Ao despertar...

Em conformidade ao desengano,
o devaneio balsãmico de tanta lucidez
derruba como um tornado primaveril
a escuridão desconhecida.

Ainda nem a manhã chegou
dessa sua introspecção revitalizante
e já as trevas vencidas
desviam os seus rumos
por seus próprios pés...

Incessante esta comunhão
de harmonia profunda,
penetra no peito carvão,
desfazendo esses castelos de pedra
incrustados como uma insana carapaça
na fragilidade humana.
As águas deste rio
percorrem o leito fluindo,
são peripécias sem rumo,
com o caminho já traçado.

O olhar que as vê serenas
desconhece as suas quedas
onde não parecem as mesmas,
atiçadas como algumas feras.

As águas deste rio
são humanos em andanças,
seu leito é nossa vida
desconhecida até ser vivida.

Cada uma por seu afluente
ora pujante, ora impotente.
Sempre com liçôes para aprender
que elevam a qualidade do ser.
Estupenda vontade
por vezes humilhada como homens são.
Por vezes escassa como desejo que se perde
indignado entre escombros de rubis escacados.

Preciosa vontade
por vezes pura...

Vontade que nos levas também
como crianças, pela mão
e nos condenas depois à humilhação.

Vontade verdadeira que por linhas tortas
escreves poemas de amor e sofrimento,
e às cegas nos levas
à inesgotavgel fonte que sacia
a eterna sêde de verdade.

Estupenda vontade...
A eternidade não tem data
não tem fim, não tem início.

A eternidade arde eterna na lama
onde te tens escondido.

Sabes que não tens de ser
nem de dar o que tens a perder,
mas sabes também que podes...

e sentir o odor da confiança
quando ela é inabalável,
e o mundo e as estepes
e as formigas se prostram a teus pés,
com dignidade e alegria,
com humildade e amor ardente.

Sei que esperas dormente,
sei tudo o que tu sabes,
porque sou eu também
quem espera solitário e impaciente.
O sonho esconde os teus segredos
esconde na capa do teu inconsciente,
esconde aquilo que vês e aprendes.

O sonho deixa-te nervoso e dormente.
Por vezes até te levantas assustado,
com medo de não sabes quê.

O sonho é o que se apreende
nem sempre é o que se vê.

Sabes quem envolve o teu sonho...
Sei que sabes como eu.

Talvez um dia nos encontremos
os dois na terra prometida.

Sabes que foi ele quem to deu,
a realidade para sentir
e depois saber de volta onde estás,
abraçados os dois para nunca mais sofrer.

Sonho de menino

Quero ser pastor
para saborear o mundo do Homem.

Sentar-me nos rochedos,
olhar a erva verde sobre
a terra humida e morna
de um prado montanhoso,
onde as cabras,
pousadas pela mão divina,
descansam e vivem em paz.

Quando os olhos verdes da natureza
reflectirem a vontade de sua raiz,
o impetuoso encanto do ser voltará
na sua plenitude harmoniosa...

E eu quero ser pastor,
para guiar o rebanho
no caminho da vida.

E na rocha,
Agora iluminada pela manhã
que recebe o sol de braços abertos,
esculpirei a minha verdade,
escreverei em papel suave
a cor do céu e a beleza da mãe.

Quero ser pastor
e desfrutar da alquimia sagrada
que o cosmos me propuser,
para voar de olhos vazios,
colocados no silêncio.

É este meu sonho que
delicadamente faz brotar
a magia incondicional
no seu berço maçio e lusidio.

E aspiro à fé para unir
a dualidade que me fragmenta,
permitindo a entrada
dessa frequência vibracional eterna
que o universo emana
na sua existência subtil unificada.

Assim procuro o meu menino interior
Um menino que é pastor,
e anseia ser uno ao amar,
ser poeta da verdade menina,
ser autêntico em liberdade,
na humilde condição da vontade
e da pacífica actuação Divina.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

...O amor puro

"Ha coisas que n sao para se perceberem. Esta eh uma delas. Tenho uma coisa para dizer e n sei como hei-de dize-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensivel. A culpa eh minha. O que for incompreensivel n eh mesmo para se perceber. N eh por falta de clareza. Serei muito claro. Eu proprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dize-lo. O que quero eh fazer o elogio do amor puro. Parece-me que ja ninguem se apaixona de verdade. Ja ninguem quer viver um amor impossivel. Ja ninguem aceita amar sem uma razao. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questao de pratica. Porque da jeito. Porque sao colegas e estao ali mesmo ao lado. Porque se dao bem e n se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque eh mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calcas e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pre-nupciais, discutem tudo de antemao, fazem planos e a minima merdinha entram logo em "dialogo". O amor passou a ser passivel de ser combinado. Os amantes tornaram-se socios. Reunem-se, discutem problemas, tomam decisoes. O amor transformou-se numa variante psico-socio-bio-ecologica de camaradagem. A paixao, que devia ser desmedida, eh na medida do possivel. O amor tornou-se uma questao pratica. O resultado eh que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estupido, do amor doente, do unico amor verdadeiro que ha, estou farto de conversas, farto de compreensoes, farto de conveniencias de servico. Nunca vi namorados tao embrutecidos, tao cobardes e tao comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, sao uma cambada de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tah bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcancadores de compromissos, bananoides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Ja ninguem se apaixona? Ja ninguem aceita a paixao pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilibrio, o medo, o custo, o amor, a doenca que eh como um cancro a comer-nos o coracao e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor eh uma coisa, a vida eh outra. O amor n eh para ser uma ajudinha. N eh para ser o alivio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dah lah um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporanea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, jah n se ve romance, gritaria, maluquice, facada, abracos, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor eh amor. Eh essa beleza. eh esse perigo. O nosso amor n eh para nos compreender, n eh para nos ajudar, n eh para nos fazer felizes. Tanto pode como n pode. Tanto faz. Eh uma questao de azar. O nosso amor n eh para nos amar, para nos levar de repente ao ceu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor eh uma coisa, a vida eh outra. A vida as vezes mata o amor. A "vidinha" eh uma convivencia assassina. O amor puro n eh um meio, n eh um fim, n eh um principio, n eh um destino. O amor puro eh uma condicao. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor n se percebe. N eh para perceber. O amor eh um estado de quem se sente. O amor eh a nossa alma. Eh a nossa alma a desatar. A desatar a correr atras do que n sabe, n apanha, n larga, n compreende. O amor eh uma verdade. Eh por isso que a ilusao eh necessaria. A ilusao eh bonita, n faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor eh uma coisa, a vida eh outra. A realidade pode matar, o amor eh mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coracao apanha-se para sempre. Ama-se alguem. Por muito longe, por muito dificil, por muito desesperadamente. O coracao guarda o que se nos escapa das maos. E durante o dia e durante a vida, quando n esta la quem se ama, n eh ela que nos acompanha - Eh o nosso amor, o amor que se lhe tem. N eh para perceber. Eh sinal de amor puro n se perceber, amar e n se ter, querer e n guardar a esperanca, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. N se pode ceder. N se pode resistir. A vida eh uma coisa, o amor eh outra. A vida dura a Vida inteira, o amor n. So um mundo de amor pode durar a vida inteira. E vale-la tambem."

Miguel Esteves Cardoso in: Expresso