Há mulheres que chegam como quem abre uma janela dentro do tempo. O ar muda, a luz muda, o corpo desperta uma lembrança antiga, a de estar vivo.
Ela trazia o sol nos gestos, um rumor de mar na pele, e nos olhos o princípio de todas as viagens.
Há uma pureza rara nesses encontros: o instante em que o olhar reconhece algo que não se explica. Como se, por um breve segundo, o mundo se revelasse inteiro, vulnerável, luminoso, verdadeiro. Sei lá...
Não sei o que nasce aí. É algo mais fundo, anterior ao desejo. Uma força que lembra o milagre da criação, a harmonia silenciosa das coisas quando ninguém as tenta compreender.
O corpo, diante de tanto mar, apenas consente. Respira.
E nesse respirar há já uma oração.
Algumas presenças não pedem nada, apenas acontecem. São passagem, são semente, são o reflexo da própria vida a recordar-nos que ainda há ternura possível.
E talvez seja isso a inspiração:
reconhecer no outro o brilho daquilo que esquecemos em nós.
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