quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Tenho o coração gasto
e cheio de arranhões
um coração que viu sonhos
desfeitos na tempestade
como a nuvem
que sonhava ser estrela
e choveu

Tenho um coração tão denso
que é um novelo
carregado de nós
e não consigo desenlear

Esse coração tem histórias tristes
que nunca vou contar
dias cinzentos de inverno
noites escuras de breu

Mas ontem voltou o rubor
pintado pelas mãos de Sofia
Mãos perfumadas pela terra
pelas flores por candura

Mãos que lavaram o negrume
que obscurecia o meu coração-carvão
num toque delicado e curioso

E com um sopro fresco
os seus lábios de mistério
encheram-me o peito

A densidade deu lugar à leveza
os nós desataram
o céu abriu e o meu coração
mesmo sem asas
voou

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